Mais do que plantar sem agro tóxico, a Agricultura Biodinâmica torna a paisagem sadia, valendo-se até de forças cósmicas.
Toda agricultura biodinâmica é orgânica. Mas nem toda agricultura orgânica é biodinâmica. A diferença é que a biodinâmica, além de não utilizar agro tóxicos, fertilizantes químicos, antibióticos e hormonas, se interessa por uma dimensão espiritual da terra. Isso mesmo. A biodinâmica procura compreender e respeitar a relação do solo e do plantio com o universo. Com todo o sentido poético, filosófico e cósmico que esta inter-relação possa conter.
O método foi criado em 1924, por Rudolf Steiner, filósofo e educador austríaco que também fundou a pedagogia Waldorf e a Antroposofia. Daí porque os princípios de integração dos elementos físico, intelectual, artístico e espiritual, comuns à educação Waldorf e à medicina antroposófica, também estarem na base dessa agricultura. “Um curso de especialização em biodinâmica vai despertar todas essas dimensões e sensibilidades e conectá-las com conhecimentos técnicos e ecológicos”, afirma Juliana Valentini, dona do Viveiro Oiti, de plantio de árvores nativas para reflorestamento, em Holambra, e estudiosa do tema.
Uma abordagem integral da terra
“Na prática, cinco fatores são levados em conta na produção biodinâmica: a observação da paisagem (se o terreno é aberto ou fechado, se tem montanha ou rio), a propriedade vista como organismo vivo, os preparados biodinâmicos, as forças astrais na produção de alimentos e o calendário astronómico agrícola”, esclarece Vivian Ferreira Franco, uma das diretoras da Associação Brasileira de Agricultura Biodinâmica (ABD). O agricultor demonstra sua reverência aos seres que atuam para a produção de um alimento, quando considera todos esses aspectos.
O solo é um organismo vivo
A primeira lição é observar o solo sob a perspectiva de um organismo vivo (comparável ao ser humano), influenciado pela Lua, pelas estrelas e que adoece, cura, expande, encolhe. “Como o nosso corpo, a ideia é que a terra precisa da harmonia entre os cinco reinos, animal, vegetal, mineral, fungos e bactérias, para, então, ser saudável”, diz Vivian.
Esse entendimento é fundamental para as ações que vêm a seguir. Por exemplo: imagine um campo aberto, ensolarado. Ele é ideal para plantar alimentos como os grãos, que têm muita energia concentrada. Já terrenos mais húmidos e sombreados como o de florestas (chamados telúricos) carecem de um toque de energia para impulsionar seu ciclo vital e produzir melhor.
É aí que entram as forças astrais e os preparados biodinâmicos. A força astral indicada para um campo húmido é a do Sol, que está presente, segundo os conhecimentos da biodinâmica, na sílica (obtida por meio do cristal de quartzo moído). E os preparados dinâmicos são espécies de dinamizações homeopáticas, que utilizam basicamente plantas medicinais, esterco, chifre de vaca e quartzo.
Preparados biodinâmicos: tornando a terra viva
“Vale explicar que os preparados biodinâmicos estão sempre incorporados a órgãos animais para que sejam nutridos do calor que o vegetal e o mineral não têm. Por isso, o quartzo moído é depositado em um chifre de vaca, que, para Rudolf Steiner, é um poderoso retentor de calor”, esclarece Vivian.
Uma vez enterrados na propriedade, em pequenas doses, esses insumos vão se transformar com a terra e vivificá-la. “Essa técnica, bastante usada em plantações de café e aplicada no solo quando o grão ainda está verde – para que possa amadurecer bem –, ajuda a compreender a integralidade da abordagem biodinâmica”, diz a especialista.
A Lua e as constelações indicam quando plantar
Outro ponto de diferenciação dessa agricultura é o uso do calendário que prevê os dias certos para plantio e colheita dos alimentos. A descoberta foi feita pela polonesa Maria Thun.
Depois de anos observando os rabanetes de sua propriedade, ela percebeu que o posicionamento da Lua e das constelações zodiacais influenciava a qualidade da hortaliça e desenvolveu um sistema de cultivo que transformou essas informações em ferramenta para o agricultor.
Hoje, os adeptos dessa linha sabem que a lua nova concentra muita água, as marés estão cheias e, por isso, é uma boa hora para plantar brócolos, repolho, alface que ficarão ainda mais expansivos.
No minguante, vale a pena plantar raízes, porque a força astral empurra a seiva para baixo. No crescente, o momento é propício para semear folhas cujo desenvolvimento é aéreo. Já a lua cheia favorece os frutos: tomate, beringela, pimenta, abóbora.
A dinâmica da natureza, quando compreendida, parece mesmo contagiante.
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